quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Closer to the Edge


Aos domingos consentia almoçar com a família do marido. Lembrava-se bem do dia em que os tinha conhecido. O ar emproado da sogra, o azedume do sogro, o pedantismo das cunhadas. Todos os domingos Teresinha sentia os mesmos olhares pesados do primeiro dia. Hoje está frio, hoje está sol, hoje está calor, hoje chove. Sempre as mesmas frases, a mesma sala de lustre de pingos de cristal, a mesma toalha de linho branco. Forçava  uma delicadeza que não tinha enquanto partia a carne assada, mergulhando os olhos no molho pardo e concentrando-se em comer devagar. Enchia o prato com uma pirâmide de arroz, levava várias garfadas pequenas à boca em gestos mecânicos, disfarçando a tensão. Será que ninguém se dava conta daquela dor antiga? Sentada ao lado do marido, Teresinha dissimulava com mestria a antipatia que sentia por aquela família que não era a sua. Assim que serviam o café nas chaveninhas de porcelana azul, Teresinha suspirava de alivio. Ia mordiscando chocolates em forma de coração e dava por si a pensar que um dia, temia, o pior sucederia. A dor que lhe enchia o peito de vidros sairá em forma de vómito, sujará os pingos do lustre, a toalha de linho, as chaveninhas de porcelana azul. Um dia de domingo ao almoço o conto de fadas terminará e Teresinha ficará só, com a sua carruagem feita de abóbora.


STRUDEL DE ABÓBORA, NOZ E CANELA
(Adaptado do Livro "Iguarias Saudáveis de Isidora Popovic")
Tempo de preparação:5 minutos+ 25 minutos de cozedura
Serve: 4 pessoas;

  • 200 gr abóbora limpa e cortada em pedaços;
  • 50 gr de açúcar mascavado claro;
  • uma mão cheia de nozes;
  • 1/2 colher de café de canela;
  • 1/2 colher de café de all spice;
  • 8 folhas de massa filo;
  • óleo para pincelar;
  • açucar em pó;
Modo de preparação:
  1. Estenda uma folha de massa filo e pincele com óleo. Repita até ter todas as folhas em camadas.
  2. Entretanto, reduza a abóbora a puré e misture com o açúcar, as especiaires e as nozes grosseiramente picadas.
  3. Coloque uma camada de recheio na ponta das camadas de massa e vá enrolando, fechando com cuidado os topos do strudel para o molho não sair. Pincele o topo do strudel com um pouco mais de óleo.
  4. Leve ao forno pré-aquecido a 180cª cerca de 25 minutos, ou até estar dourado.
  5. Sirva polvilhado com açúcar em pó e acompanhado com gelado de nata, se gostar.

10 comentários:

  1. Gostei muito da história, e o strudel deve ser fantástico :)
    Beijocas

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  2. hm hm, strudel, abóbora, nozes... acho que fiquei sem palavras. Vou ter que experimentar esta receita, com urgência. As papilas gustativas assim o exijem!

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  3. Oi Felipa,
    COmo são bonitos são textos! E ainda complementados com deliciosas receitas.
    Bj e umbom dia,
    Lylia

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  4. Filipa,
    Já estava com saudades do Recipe. O strudel é perfeito para esta estação. Tem as cores e os sabores do outono e traz o conforto de um aconchego.
    Beijinhos

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  5. Ai tantas Teresinhas por esses lares afora! Algumas famílias deviam ser proibidas :) Este strudel é bem diferente, para melhor já que não tem passas ha ha

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  6. Hmm.. muito bom, ficou com um aspecto delicioso! beijos

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  7. As receitas são ótimas,mas a contextualização não lhe fica atrás. Escreves muito bem e dizes de uma forma simples e cativante o que vai na alma de tantos e tantas...

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  8. Filipa adorei o strudel, os ingredientes são dos meus preferidos!!

    Bjs

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  9. Oi galera, tudo bem?
    Vocês ficaram sabendo que a Dako tá fazendo um Concurso Cultural que vai premiar uma pessoa com um fogão, micro-ondas, depurador e refrigerador?
    É só entrar no site www.suahistorianacozinha.com.br, responder “Se sua cozinha falasse, o que ela diria...” e torcer para que escolham sua história!
    Minha cozinha tem várias histórias pra contar, e a sua?
    Achei legal divulgar, participem! Beijos e abraços

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  10. Filipa, só tu para entrares assim, de forma brutal, crua, na alma de tantas e tantas Teresinhas por esse mundo fora, e exprimires o que cada um de nós tem de Teresinha no canto mais escurecido e escondido de si próprio. Obrigado...

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