sexta-feira, 27 de maio de 2011

Under pressure

Entrou apressada no restaurantezinho de ares franceses para o almoço de sexta com as amigas. Os passinhos curtos acusavam o desconforto da saía justa de riscas modernas. Podia sentir os olhares a tatuarem-lhe a nudez das pernas. Quando teria começado o seu duelo? Sentou-se e escolheu com cuidado a posição da cadeira na esplanada envidraçada. Suficientemente protegida do Sol. Detestava aquelas sardas infantis que lhe pintavam o pequeno rosto de boneca. Suficientemente perto da janela para poder contemplar o reflexo  da sua nova figura. Onde estariam as amigas? Tamborilou os dedos delgados no verde garrafa da toalha e agarrou com convicção a ementa desmaiada. Os olhos percorreram frenéticos o anúncio do repasto. Já nem se lembrava quando tinha começado o seu duelo com a balança. Nem queria saber. Queria aliviar a pressão, as tonturas da gula. Queria uma coisa: tiramisú de chocolate.


TIRAMISÚ DE CHOCOLATE
Tempo de preparação: 10 minutos, mais ou menos;
Serve: 6-8

  • 350 gr de mascarpone;
  • 200+ 125 ml de natas;
  • 60 ml vinho do Porto;
  • 250 ml café forte;
  • 36 palitos de champanhe;
  • 330 gr de chocolate negro;
  • 125 ml de natas frescas;

Modo de preparação;
  1. Comece por fazer um creme de chocolate, misturando as natas com o chocolate, aquecendo em lume brando e mexendo sempre até o chocolate derreter. Retire do lume e deixe arrefecer;
  2. Bata as restantes natas até estarem firmes. Misture o mascarpone com as natas batidas com uma vara de arames até estar homogéneo;
  3. Misture o café com o vinho do Porto e molhe rapidamente 1/2 dos palitos de champanhe, colocando-os em taças ou copos individuais. Também pode servir num pirex, iniciando as camadas da mesma forma;
  4. Por cima dos palitos molhados na mistura de café coloque parte do creme de chocolate seguido da mistura de mascarpone, e repita todo o processo formando duas camadas idênticas que terminarão com mistura de mascarpone.
  5. Polvilhe com cacau em pó, leve ao frigorífico para refrigerar e alivie a pressão da balança....

terça-feira, 24 de maio de 2011

From the clouds

Hoje sonhei com a praia. Acordei a meio da noite, quando as horas estão paradas, a sorrir como se um Sol escuro me acariciasse as costas. Sem um sobressalto, sem uma angústia, sem um desespero. Conta a minha avó que quando eu era miúda, no Verão ficava mais faladora. Como se isso fosse sequer possível. Não gosto de a contrariar. Agora com a idade deu-lhe para amuos. Uma areizita grossa expulsou os meus pés da cama. Gosto de dormir com os pés de fora. Sinto-me menos pequena. Acordei leve. Cabeça vazia. Nas nuvens. As cócegas do vento percorreram-me o corpo e despertaram-me com alegria. A roupa silenciosa pendurada no armário olhou para mim com vida. Vontade de conversar. Talvez ela tenha razão. A minha avó.  

FRITATTA DE ERVILHAS, FIAMBRE E FETA 
Tempo de preparação: 15 minutos, mais ou menos;
Serve: 4 pessoas;

  • 6 ovos;
  • 125 ml de natas;
  • 4 colheres de sopa de queijo parmesão ralado;
  • 2 dentes de alho;
  • 1 chávena de ervilhas congeladas;
  • 50 gr de queijo feta;
  • 100 gr de fiambre;
  • 1 colher de chá de oregãos;
  • sal e pimenta preta.
Modo de preparação:
  1. Bata os ovos ligeiramente e junte as natas, os dentes de alho esmagados, os oregãos e o queijo parmesão ralado. Tempere com sal e pimenta a gosto.
  2. Forre 4 formas pequenas com papel vegetal . Coloque as ervilhas congeladas no fundo seguidas do fiambre. Cubra com a mistura de ovo e polvilhe com o queijo feta esfarelado.
  3. Leve ao forno pré-aquecido por 10 minutos ou até as fritattas estarem firmes e douradas. Sirva com uma salada de folhas verdes e desfrute estes dias de Primavera que já cheiram a Verão!

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Cara de anjo mau

Li-o todo até ao fim. O estômago às cambalhotas e eu aqui sentada muito quietinha a ler. No peito um apertão, um nojo solidário. Logo hoje que está sol e é sexta-feira e o fim-de-semana cheira a festim. Estava tão bem quieta. Sem ler. Sem saber. Porque carga de água fui lê-lo? A identidade de género tem destas coisas. Nunca disse nada a ninguém, mas acho que foi por isso que quis ter uma filha. E tive. Obrigada, Meu Deus. Sempre tive medo do dois contra um. De me sentir sozinha, injustiçada, indefesa, incompreendida. Uma mulher comove-se com a dor de outra mulher. Eu comovo-me.  Se calhar foi por isso que fui ler. Estive quase um século a lê-lo.  Um circo inteiro a actuar dentro da tripa. Trapezistas, palhaços, elefantes, leões. E eu de boca fechada, com medo de jorrar um vómito. A imaginar porque carga de água não te comoveste. A imaginar-te vestida de preto, com a beca coçada, com cara de anjo mau.

PENNE COM BERINGELAS
Tempo de preparação: 20 minutos
Serve: 4 pessoas;

  • 2 beringelas grandes;
  • 400 gr de tomate pelado;
  • 450 gr de pene (ou outra massa curta);
  • 2 dentes de alho;
  • 1 malagueta seca;
  • uma mão cheia de azeitonas pretas;
  • uma mão cheia de salsa fresca;
  • 1 salpico de vinagre balsâmico, se gostar;
  • azeite, sal e pimenta preta moída;


Modo de preparação:
  1. Coza a massa até estar al dente. Escorra e reserve uma chávena de água da cozedura.
  2. Entretanto, corte as beringelas em quadrados de 1 cm. Leve uma panela ao lume com um fio de azeite, coloque os alhos esmagados, a malagueta e as beringelas. Quando as beringelas estiverem com cor, junte o tomate pelado partido em cubos com cerca de 1 cm e deixe apurar. 
  3. Junte as azeitonas. Tempere com sal e pimenta. Junte um pouco de água da cozedura se o molho estiver muito grosso. Salpique com o vinagre e junte o molho à massa cozida. Envolva bem. Polvilhe com salsa picada e queijo parmesão e sirva.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Art

Alguém me disse um dia que os momentos bons da vida chegam. Não tem qualquer sentido esperar por eles. Se ao menos eu conseguisse viver sem estar à espera. Se ao menos eu conseguisse viver sem complicar. É pena. Não consigo. Às vezes sinto-me como se fosse artista. De qualquer arte, não importa. Mas não sou e dá-me pena. Fico para aqui a lutar com as emoções, a deixar que os momentos maus me arranquem a pele, a complicar. E é pena não ser artista. Gostava. Se fosse aproveitava esta tormenta, esta angustia, esta consumição para alguma coisa. À espera dos momentos bons, sentada num banco de  pernas altas, a ler um jornal de pernas para o ar, com um carrapito na cabeça e os lábios pintados de rosa choque. A suplicar: Meu Deus quero momentos bons. Se fosse artista não era complicada. Era artista. Podia ser contraditória e desesperada que ninguém levava a mal. E podia fugir das coisas más  como quem tem o diabinho no corpo ou ficar sentada à espera dos momentos bons. Como quem espera pelo começo de um novo dia.

COUSCOUS DOCE DE PEQUENO-ALMOÇO
(Ligeiramente adaptada do Livro "Cozinha para Quem não tem Tempo" De Mafalda Pinto Leite)
Tempo de preparação: 5 minutos
Serve: 4 pessoas;

  • 1 chávena de couscous;
  • 1 chávena de sumo natural de maçã;
  • 1 colher de sopa de mel;
  • 100 gr de amêndoas laminadas e torradas;
  • 2 pêssegos;
  • 1 mão cheia de sultanas;
  • 1 maçã verde; 
Modo de preparação: 
  1. Leve o sumo de maçã com o mel ao lume e deixe levantar fervura. Entretanto coloque o couscous numa tigela à prova de calor e ruge com o sumo quente. Tape e deixe descansar por 5 minutos;
  2. Corte o pêssego em cubos. Rale a maçã. Misture a fruta com o couscous, junte as amêndoas torradas e as sultanas, se gostar. Sirva com iogurte grego e comece o dia sem estar à espera de bons momentos....eles chegam!

segunda-feira, 16 de maio de 2011

There´s No Other Way


Tenho dormido mal. Já tentei perceber porque raio só tenho ataques de pessimismo à noite. Nada. Nem uma explicação. Lógica, entenda-se. Preferia andar cabisbaixa à luz do dia. Como vais? Vou andando. Mesmo sem saber para onde, vou andando. Nunca compreenderei a patetice intelectual que essa expressão encerra. Ando pela casa num silêncio profundo  à espera de encontrar algum pensamento tranquilo, disponível para me embalar. Ando para a frente e para trás a sofrer em voz baixa, numa insónia consentida. No outro dia encostei-me à parede para o deixar passar. Memorando do Entendimento. As coisas ficam mais fáceis quando encontramos um culpado, pelo menos para mim ficam. Diabo de documento. Queria  aceita-lo sem alarmismos, sem pânico, sem idiotice de pessimismo nenhum: com a maior tranquilidade. Sem queixas e sem exigências.    Como vais? Vou bem. Sem dormir, é certo.


CEVICHE
(Adaptado da receita do Chef Camilo Jaña)
Tempo de preparação: 5 minutos;
Serve: 4- 6 pessoas;

  • 300 gr corvina (ou robalo, pescada) sem peles nem espinhas;
  • 1 e 1/2 cebola roxa;
  • 200 ml leite de côco;
  • sumo de 4 limas;
  • 2 colheres de chá de açúcar;
  • um molho de coentros;
  • sal e pimenta preta;
Modo de preparação:
  1. Corte o peixe em cubos pequenos e reserve.
  2. Pique finamente a cebola e coloque numa tijela. Cubra com água e junte o açucar. Deixe marinar cerca de 5 minutos. Depois, escorra e passe a cebola por água. Reserve.
  3. Entretanto, junte o leite de côco, os coentros e o sumo de lima. Depois junte a cebola a esta mistura. 
  4. Finalmente, junte o peixe, tempere com sal e pimenta preta moída na hora e sirva (bem gelado).

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Oh

Bonita. Isso sei que eras e não preciso que ninguém me diga porque as tuas fotografias gritam bem alto a certeza da tua beleza. Alta, olhos rasgados a castanho, imponente. Não te imagino a falar de doenças, nem de desgraças, nem de coisas escuras. Mas porque Diabo? Sabes quem está mal? Não, nem quero saber. Imagino-te radiante, cores vivas, unhas bem arranjadas e com um  cigarro na ponta do dedo. A respirar baixinho para ninguém ouvir os teus vidros partidos no peito. Imagino-te a caminhar comigo, as duas numa tagarelice pegada, a pedir licença para falar. E tudo o resto adivinho. Tinhas tanta vida que logo no primeiro dia em que te vi, estática, sorrindo abraçada ao teu marido, em cima da mesa da sala da tua filha, soube que iria lamentar para sempre não te ter conhecido. E lamento. Muito. 


PASTA DE GRÃO COM SEMENTES DE SÉSAMO
(Ligeiramente adaptada da receita de Nayibe Raad)
Tempo de preparação: 5 minutos;
Serve: 6 a 8 pessoas;

  • 400 gr de grão cozido;
  • 1 dente de alho;
  • 2 colheres de chá de cominhos moídos;
  • 1 malagueta seca;
  • 2-3 colheres de sopa de sementes de sésamo tostadas;
  • sumo de um limão;
  • azeite, sal e pimenta preta; 

Modo de preparação:
  1. Coloque as sementes de sésamo numa frigideira e leve ao lume cerca de 1 minuto ou até estarem tostadas.
  2. Coloque o grão, o alho esmagado, a malagueta e as sementes de sésamo num robot de cozinha. Triture até obter uma mistura cremosa.
  3. Adicione os cominhos, o sumo de limão e azeite suficiente para obter a consistência de pasta para barrar. Tempere com sal e pimenta e sirva com pão árabe ou com pão marroquino achatado.

terça-feira, 3 de maio de 2011

The girl from Ipanema

Saí de casa cedo e ela já lá estava. De frente para quem passava a olhar para lado nenhum e a sorrir, desavergonhadamente.  Olhei para ela, confesso. Olhei com detalhe, sem pudor. Coitada. Vai ficar ali todo o dia. Pronto já vimos, podes ir à tua vidinha. Gritei-lhe. Gritei para dentro, faço cerimónia deste sentimento. Vai, não ouviste? Está a chover, podes ir que hoje ninguém veste biquínis. Pensei, confesso. Não devia, mas pensei. Nisso e numa série de outros disparates, um tsunami de pensamentos invejosos. E ela ali. Animal de cativeiro. O vidro a cortar-lhe a respiração e ela a sorrir, desavergonhada. As curvas perfeitamente esculpidas, o biquíni cor de oceano Pacífico e as palmeiras. E pior. A promessa. Desavergonhada. Quatro semanas bastam. Uns minutinhos por dia. E eu a escrever com os olhos o nome do tal elixir que as curvas dela me querem vender. Vá lá, não queres? São só uns minutinhos para ficares como eu. Quero, quero. E eu a fingir que acredito, a olhar para mim, para ela, para o elixir, para o espelho, para o biquíni, um terramoto de fantasias. E eu a pensar baixinho que faço cerimónia deste sentimento: desavergonhada!


COUSCOUS DE LEGUMES DE VERÃO
Tempo de prepraração: 15 minutos;
Serve: 4 pessoas;

  • 2 chávenas de couscous;
  • 1 courgette;
  • 1 molho de espargos verdes;
  • 1 pimento vermelho;
  • 1 pimento verde;
  • 2 tomates;
  • 1 malagueta fresca;
  • uma mão cheia de salsa;
  • sumo de uma lima;
  • azeite, sal e pimenta;
Modo de preparação:
  1. Coloque o couscous numa tijela e junte duas chávenas de água a ferver e uma pitada de sal. Tape e deixe repousar cerca de 5 minutos. Separe os grãos com um garfo e reserve.
  2. Entretanto, descasque os espargos e ferva durante 3 minutos.
  3. Parta a courgette, os tomates e os pimentos em quartos.
  4. Leve uma frigideira ao lume com um fio de azeite e junte a courgette e os pimentos. Deixe os legumes amolecerem e ganharem cor. Tempere com sal e pimenta.
  5. Parta os espargos cozidos em rodelas e junte-os ao couscous. De seguida, junte o tomate partido em quartos e os legumes quentes. Polvilhe com salsa picada e mexa bem.
  6. Retire as sementes à malagueta e parta-a em rodelas. Junte aos couscous, tempere com o sumo de lima e sirva.